Pelo segundo dia consecutivo, o Ibovespa virou para o positivo perto do fechamento do pregão, mas não conseguiu sustentar o movimento e fechou no zero a zero, refletindo a divulgação da ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), após passar a maior parte do dia no vermelho.
O principal índice da Bolsa brasileira encerrou a sessão no zero a zero, aos 110.579 pontos, com R$ 18,41 bilhões em volume negociado. Desde o início de maio, o Ibovespa acumula valorização de 2,51%, enquanto o saldo de 2022 é de alta de 5,49%.
Lá fora, as Bolsas do exterior também ganharam força com a publicação da ata. Em Nova York, o Nasdaq teve alta de 1,51%, o S&P 500 subiu 0,95% e o Dow Jones avançou 0,6%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com ganhos de 0,81%.
Economia em foco
No cenário internacional, o grande destaque do dia foi a ata do Fomc (comitê de política monetária do Fed). De acordo com o documento, os dirigentes do Fed veem pelo menos mais duas altas de 0,50 ponto nos juros dos EUA nas próximas reuniões.
No último encontro da instituição, em 4 de maio, o comitê anunciou um aumento de 0,5 ponto porcentual nos juros americanos, para a faixa de 0,75% a 1% ao ano. O movimento era amplamente esperado pelo mercado há pelo menos um mês, quando ficou evidente que a inflação nos EUA estava longe de perder força.
Em outra frente, durante painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o Brasil irá se livrar da inflação e crescer antes das economias avançadas, uma vez que o país se adiantou em relação aos demais na redução de estímulos fiscais e na implementação de uma política monetária contracionista.
Na China, o primeiro-ministro Li Keqiang reconheceu que as dificuldades econômicas do país atualmente são maiores do que as de 2020. A expectativa do mercado agora é que a China descumpra, por uma margem elevada, sua meta de crescimento de PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, o que não acontece em mais de três décadas.
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Apesar do temor de desaceleração da economia chinesa, o petróleo tipo Brent fechou em alta de 0,39%, a US$ 111,12 por barril, seguindo dados que mostram que os estoques de gasolina caíram nos EUA e comentários da Arábia Saudita de que não há mais nada a ser feito para segurar os preços. Com isso, as ações das petrolíferas brasileiras subiram, dando sustentação ao Ibovespa – os papéis ordinários da Petrobras (PETR3) tiveram alta de 2,04%, e os preferenciais (PETR4), de 1,42%.
A polêmica da Petrobras
Mesmo com as ações subindo, a Petrobras não sai do noticiário – e esbarra no cenário eleitoral. Por um lado, notícias veiculadas na mídia dão conta que o presidente Jair Bolsonaro vem propondo que a estatal não pratique mais reajustes antes da eleição.
De outro lado, o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a interferência direta nos preços praticados pela petrolífera.
A polêmica mais recente envolvendo a petroleira, porém, veio da Bolívia. Depois de ser comunicada que a YFPB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos), com quem tem um contrato de compra e venda de gás natural desde 1996, reduziu o fornecimento da commodity, a Petrobras informou que irá tomar providências para que a boliviana cumpra sua parte no acordo.
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De acordo com reportagem do jornal O Globo, o corte no fornecimento de gás natural da Bolívia pode ter contribuído para a queda de José Mauro Coelho Ferreira da presidência da estatal.
ICMS
Em Brasília, a sensação do mercado de que a Câmara dos Deputados não teria muita dificuldade em votar o projeto de lei que limita o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) de combustíveis, telecomunicações e transportes começa a perder força, depois do adiamento da votação, que deveria ter ocorrido ontem.
Na visão de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o projeto poderia trazer alívio à inflação, mas também significa uma grande perda de arrecadação para estados e municípios, o que explica a resistência.
O time de política da XP Investimentos acredita que o projeto tem apelo eleitoral e deve ser aprovado, mesmo que com algumas mudanças e com maior resistência no Senado. “Há, no entanto, riscos de judicialização por parte de representantes dos estados, que enxergam inconstitucionalidade na medida”, disseram, em comentários ao mercado.
Destaques do pregão
No fechamento, as maiores altas do Ibovespa foram de Via (VIIA3), MRV (MRVE3) e SulAmérica (SULA11), com ganhos de 6,27%, 3,83% e 3,65%, respectivamente.
De acordo com reportagem da coluna do Broadcast, do jornal O Estado de S. Paulo, a MRV anunciou que sua subsidiária nos EUA, a AHS, irá mudar de nome e investir R$ 6 bilhões em empreendimentos nos próximos cinco a seis anos. Além disso, a MRV estaria procurando um sócio com experiência no mercado imobiliário americano para comprar uma fatia minoritária da empresa e aportar capital.
Outras altas importantes foram de Rede D’Or (RDOR3) e SulAmérica. Ontem, a primeira anunciou compra 51.116.641 units da segunda. A ação da Rede D’Or fechou com ganhos de 3,46%.
Com isso, a rede de hospitais particulares alcançou o equivalente a 12% do capital social da SulAmérica. Em nota, a Rede D’Or informou que não planeja mudar o controle da empresa.
De uma maneira geral, porém, as ações dos setores de consumo, construção e varejo caíram, pressionadas pela perspectiva de alta na Selic, que ganhou força depois de dados de inflação acima do esperado divulgados na véspera.
As maiores baixas do Ibovespa foram de Banco Inter (BIDI11), Banco Pan (BPAN4) e Americanas (AMER3), com perdas de 6,43%, 5,28% e 4,33%, nesta ordem.
O setor aéreo e de turismo também recuou em bloco, repercutindo a decisão do Congresso Nacional de estabelecer o despacho gratuito de bagagens de até 23 quilos em voos nacionais e de até 30 quilos em voos internacionais. A medida provisória agora depende da sanção presidencial. Nesse contexto, Gol (GOLL4) fechou em baixa de 1,19%, Azul (AZUL4) caiu 3% e CVC (CVCB3) teve recuo de 4,25%.
Bitcoin
O mercado de criptoativos acompanhou o clima de recuperação nas bolsas globais e reagiu de forma positiva após a confirmação do Fed em manter o atual ritmo de alta dos juros.
O Bitcoin (BTC) se firmou no campo positivo e chegou a superar a cotação de US$ 30 mil, mas cedeu ao longo do dia e voltou a operar abaixo da linha de resistência.
Por volta de 17h, o maior ativo cripto em capitalização registrava avanço de 0,92%, a US$ 29.658, conforme a CoinMarketCap.
O destaque do dia foi a valorização da Terra (LUNA) após a apresentação do plano de recuperação do token. A cripto registrava alta de 16,51%, mas ainda estava cotada em frações de dólares.
O plano de resgate prevê a criação de um novo ativo, a Terra 2.0, e a sua distribuição entre os investidores prejudicados pelo crash da blockchain há três semanas.