Na volta do feriado, o Ibovespa busca sem sucesso acompanhar seus pares internacionais, que operam em leve alta no pregão desta quinta-feira (8), com os investidores digerindo as falas de dirigentes do Fed (banco central americano) e do BCE (Banco Central Europeu) sobre os juros, que sinalizaram a continuidade do aperto monetário.
Perto das 13h15, o principal índice da B3 operava em baixa de 0,82%, aos 108.877 pontos. A maior baixa do pregão ficava com 3R Petroleum (RRRP3), que perdia 5,79%. Na sequência, JBS (JBSS3) caía 5,55%, Marfrig (MRFG3) perdia 4,34% e Minerva (BEEF3) recuava 3,72%.
Na visão de Leonardo Piovesan, analista de análise Quantzed, pesa sobre esses papéis os dados abaixo do esperado sobre importação de carne da China em agosto, apesar de recordes para o mês.
Mais cedo, dados divulgados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) em parceria com a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) mostraram que os embarques de carne bovina somaram 230,2 mil toneladas para a China e renderam US$ 1,36 bilhão, com altas de 8,6% e 15,8%, respectivamente, em relação ao mês de agosto de 2021.
“Esses dados abaixo do esperado batem nas perspectivas de resultados do setor como um todo para o futuro”, diz Piovesan.
Para Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI, o boom de exportações de carne bovina brasileira para o gigante asiático deve ter chegado ao fim.
Em relatório publicado no site Pipeline, do jornal Valor Econômico, Fontanesi aposta que uma recuperação de estoques de suínos da China, que estão 20% acima do pré-pandemia, começará a prejudicar as exportações brasileiras de carne bovina já a partir do quarto trimestre deste ano.
Além dos frigoríficos, outras ações que recuavam com intensidade eram Prio (PRIO3), que tinha baixa de 4,74%, GPA (PCAR3), que perdia 3,37%, Iguatemi (IGTI11), com queda de 2,53% e SLC Agrícola (SLCE3), que operava em baixa de 2,47%.
Altas da Bolsa
Do lado positivo do índice, IRB Brasil (IRBR3) liderava os ganhos, com alta de 4,20% após sessões consecutivas de perdas.
O ressegurador apresenta um movimento de recuperação após oito sessões seguidas de perda e uma desvalorização acumulada de cerca de 50%.
Os papéis começaram a cair depois que a empresa anunciou que precisaria vender novas ações para reforçar o capital. Além disso, sofreu uma onda de apostas na queda do preço de seus papéis, motivada pela perspectiva de que os compradores das novas ações exigiriam um grande desconto em relação ao valor de mercado.
Entenda aqui:
IRB Brasil (IRBR3): taxa para alugar ação bate 499% ao ano com batalha entre comprados e vendidos
O mercado também observa um recuo na curva de juros, em linha com mais dados de deflação, que beneficiam empresas ligadas à economia doméstica.
Na sequência das altas, MRV (MRVE3) ganhava 3,68% e recuperava parte das perdas do último pregão, enquanto a Via (VIIA3) subia 3,11%. Ambas as companhias, que são expostas aos juros, se beneficiam de um arrefecimento da curva.
De acordo com dados da plataforma do TradeMap, os contratos de juros futuros para 2023, 2025 e 2028 recuavam 5 pontos-base, 17 pontos-base e 15 pontos-base, nesta ordem.
“Tivemos mais cedo a divulgação de um dado do IGP-M negativo, abaixo do esperado. Isso é positivo para essas empresas”, avalia Piovesan.
De acordo com dados da FGV, o IGP-M (Índice Geral de Preços) caiu 0,70% em agosto após uma alta de 0,21% em julho.
Gol e Azul sobem com demanda aquecida
Os papéis das aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) também figuravam entre as maiores altas com avanços de 2,10% e 2,50%, respectivamente. De acordo com a IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), a demanda de voos superou, em julho, os níveis pré-pandemia.
O órgão atestou que o nível de demanda está 0,9% acima do registrado em julho de 2019 e 24,2% acima do mesmo mês de 2021.
A Gol já havia antecipado esse movimento de alta quando divulgou, na segunda-feira (5), que a taxa de ocupação dos voos da companhia aérea subiu 1,3 ponto percentual em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado, para 81,5%.
A oferta total (ASK) da Gol em agosto, por sua vez, cresceu 43,9%, enquanto a demanda por transporte aéreo (RPK) aumentou em 46,3%.
Cenário externo
Lá fora, as principais bolsas avançam nesta quinta. Na Europa, o Banco Central Europeu acelerou o ritmo de aperto monetário e decidiu nesta quinta-feira (8) elevar os juros da Zona do Euro em 0,75 p.p (ponto percentual). Na última reunião, a autoridade monetária havia subido a taxa em 0,50 ponto.
O aumento mais agressivo tem como objetivo combater uma inflação anual que caminha para os 10%. Enquanto isso, os mercados do Velho Continente, já perto do fechamento, subiam. O Euro Stoxx 50 ganhava 0,60%, o FTSE 100 subia 0,33% e o DAX operava perto da estabilidade.
Nos Estados Unidos, por sua vez, o mercado repercute as falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Ele reforçou o tom duro que havia dito antes, ao afirmar que será necessário “agir agora” contra a inflação.
“É muito da nossa visão, e minha visão, que temos que agir agora, e fortemente, até que o trabalho seja feito”, afirmou durante conferência anual de política monetária do Cato Institute.
Em Wall Street, os mercados também avançavam. O Dow Jones ganhava 0,37% enquanto o Nasdaq e o S&P 500 subiam 0,47%.