Desaceleração global puxa nova queda em prévia do IGP-M, e pode ajudar IPCA no futuro

Matérias-primas estão em queda no mundo; apesar disso, cenário fiscal e risco de reversão de ICMS menor colocam pressão de alta nos preços

Foto: Shutterstock/rafastockbr

A perda de fôlego da economia global já está chegando à inflação brasileira na forma de queda nos preços de matérias-primas, como mostram dados do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) divulgado nesta segunda-feira (21) pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

A segunda prévia do indicador em novembro mostrou nova queda nos preços, de 0,55% na comparação com o outubro, quando o recuo havia sido de 0,88%. A redução foi puxada por minério de ferro, café e milho, que levaram um dos índices que compõe o IGP-M, o IPA (Índice de Preços ao Produtor), a cair 0,90%.

“Esse cenário já reflete a desaceleração da economia mundial”, diz o coordenador dos índices de inflação da FGV, André Braz. “Vários países estão subindo os juros, como os Estados Unidos. E a gente sabe que quando o juros sobem, a atividade econômica fica mais comprometida, cresce mais lentamente.”

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Na avaliação do especialista, mesmo que o mundo não entre em recessão, uma taxa de crescimento mais discreta tende a fazer o aumento de preços ser mais lento. “Isso já se reflete nas commodities captadas pelo IPA”, explica. “E tem efeito no processo inflacionário aqui também, porque isso é custo para grandes indústrias, para prestação de serviços.”

Um dos exemplos mais evidentes de desvalorização das commodities nas últimas semanas é o do petróleo. O preço dos contratos futuros caiu para menos de US$ 90 por barril na semana passada, voltando a níveis observados pela última vez em meados de outubro.

Impacto do IGP-M poderá ser sentido no IPCA

Para Braz, essa redução do IGP-M tende a ser sentida no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação, em alguns meses. “Se o custo para indústrias e serviços está ficando mais baixo, ele também pode ajudar a conter pressões inflacionárias”, diz.

Ele alerta, contudo, que a alta de preços não se manifesta somente pelo lado da oferta. “A inflação não se manifesta somente por um motivo. A gente tem vários desafios pela frente, como a questão fiscal e o risco de uma revisão dos cortes recentes do ICMS de energia, gasolina e telecomunicações.”

Nas últimas semanas, dólar e juros futuros vêm disparando com a chance de aprovação da PEC da Transição, cujo texto prevê abertura de até R$ 200 bilhões em despesas adicionais no Orçamento de 2023.

A expectativa é que a proposta seja desidratada em negociação com o Congresso, mas o fato de o governo eleito ainda não ter sinalizado quem será o novo ministro da Fazenda continua a preocupar o mercado.

“Existe também a questão do aumento de casos de Covid-19 no mundo. Como essa nova onda pode afetar as cadeias produtivas globais, já que está voltando principalmente na Ásia?”, questiona Braz. “Aqui no Brasil também temos um número expressivo de casos. Então há muitas situações que podem impactar a inflação no médio prazo.”

Outro índice que compõe o IGP-M, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) teve alta de 0,54% na segunda prévia deste mês, após variar 0,29% em outubro. O destaque foi o segmento de transportes, que avançou 0,63% após cair 1,54% no mês passado. Já o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) teve alta de 0,17%.

Na próxima quinta, o IBGE informa o IPCA-15 de novembro. Após três meses de deflação, o IPCA mostrou avanço de 0,59% em outubro, dado que veio um pouco acima do esperado por analistas de mercado.

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O dado ruim ajudou a elevar os contratos de juros futuros na semana retrasada, quando o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, fez um duro discurso contra regras fiscais.

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