O movimento de aversão ao risco no mercado global visto na semana passa continua no início desta semana, com o adendo de que esta semana é mais curta por causa do feriado da Páscoa, na próxima sexta-feira (15), que tende a deixar os investidores mais cautelosos em suas posições, como forma de se resguardar num cenário volatilidade. Por volta de 13h30 (de Brasília), o Ibovespa operava em baixa de 0,78%, aos 117.395 pontos.
Na ponta negativa, a liderança era da BRF (BRFS3), que tinha uma desvalorização de 5,45%, seguida por Cogna (COGN3), que caía 5,30% e Petz (PETZ3), que recuava 4,35%. O restante das quedas estava concentrado em ações ligadas à economia doméstica.
A incerteza que paira sobre a taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos tem contribuído para esse movimento de aversão nos últimos dias. Na última sexta-feira (8), a inflação brasileira, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mostrou avanço de 1,62% em março, a maior alta para o mês desde 1994.
Esse número elevou as apostas de que o ciclo de alta nos juros por aqui não irá acabar em maio. Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se mostrou surpreso com o resultado de inflação, e afirmou que a instituição pode revisar o cenário para os próximos meses.
“Estamos sempre reabertos a analisar o cenário. Tivemos uma surpresa negativa neste último número, surpresa que se deu em vários países. Vamos analisar os fatores que geraram surpresa inflacionária e vamos comunicar no momento que for mais apropriado”, afirmou Campos Neto durante participação em evento nesta manhã.
Após as declarações, os contratos futuros de juros ganharam força, indicando que o mercado vê espaço para uma elevação ainda maior da taxa Selic. No horário acima, os DIs com vencimento em julho de 2023 eram negociados a 13,11%, mostrando alta de 22 pontos-base. Os contratos de julho de 2025 operavam a 11,81%, aumento de 11 pontos-base.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acrescenta que o movimento de aversão ao risco na Bolsa brasileira também é reflexo de um movimento global de cautela.
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“Você vê boa parte dos mercados internacionais em queda diante da continuidade do lockdown na China, sem um sinal de quando irá acabar, o que alimenta uma perspectiva de inflação no mundo inteiro”, comenta o estrategista.
Altas do dia no Ibovespa
Na ponta positiva do Ibovespa, quem mais se destacava era a Ambev (ABEV3), que subia 3,15%, seguida por Energias do Brasil (ENBR3) que tinha alta de 1,27% e a Azul (AZUL4), com valorização de 0,97%.
Ainda do lado das companhias aéreas, a Gol (GOLL4) tinha uma alta de 0,65%. Para Gustavo Cruz, da RB Investimentos, as ações sobem por conta de notícias envolvendo uma conversa entre o setor aéreo e o Ministério da Economia.
O mercado aguarda uma conversa entre o ministro Paulo Guedes e os presidentes da Latam, Gol, Azul e Passaredo sobre um possível alívio tributário ao setor.
Outra ação que figurava entre as principais subidas no pregão era da Braskem (BRKM5), que crescia 1,22%. A empresa se beneficia dos rumores envolvendo uma proposta financeira da J&F Investimentos. Segundo o colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, a proposta da holding para comprar a petroquímica inclui toda a empresa. Ou seja, os 36% da Petrobras e a fatia de 38% da Odebrecht. O negócio estaria avaliado em R$ 27 bilhões.
Recentemente, a companhia recebeu uma proposta de R$ 13,6 bilhões da gestora americana Apollo Capital pela fatia da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem.
Mais cedo, em comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Imobiliários), a Braskem disse que “não é parte das eventuais discussões dos acionistas sobre vendas de participações acionárias”.
Cenário internacional
No exterior, as principais bolsas internacionais operam em queda desde o começo dos pregões, enquanto os investidores aguardam a divulgação dos dados de inflação (CPI) nos Estados Unidos. Segundo a XP Investimentos, as projeções do mercado sugerem que o indicador anual se aproxime dos 8,5%, o nível mais elevado em 40 anos.
“Se confirmado, será mais uma evidência de que o Fed estaria atrasado e que ele poderia acelerar o processo de aperto monetário nos próximos meses”, afirma a corretora em morning call desta segunda. Em Wall Street, o Dow Jones caía 0,49%, enquanto o S&P 500 recuava 1,08% e o índice Nasdaq Composto tinha uma desvalorização de 1,57%.
Na Europa, os investidores acompanharam o primeiro turno das eleições na França durante o fim de semana. O atual presidente Emmanuel Macron enfrentará a candidata de extrema-direita Marine Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais. No primeiro turno, Macron alcançou 27,6% dos votos, enquanto Le Pen ganhou 23%.
Por lá, os índices acionários também caíam. O FTSE 100 recuava 0,65%, enquanto o DAX, da Alemanha, desvalorizava 0,57%. O índice Euro Stoxx 50, que reúne empresas de toda a zona do euro, tinha uma queda de 0,60%. Na França, o índice CAC 40 era o único que subia, e tinha uma valorização de 0,12% no mesmo horário.