Na Bolsa, CVC (CVCB3) e outras varejistas caem com temor de risco fiscal; commodities sobem

Mercado analisa impactos da PEC da Transição aprovada no Senado com R$ 145 bilhões fora do teto de gastos

Foto: Shutterstock/Alf Ribeiro

O Ibovespa opera em queda nesta quinta-feira (8), pressionado por empresas sensíveis aos juros, um dia após a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição ser aprovada pelo Senado com R$ 145 bilhões fora do teto de gastos.

Além disso, o mercado acompanha a manutenção da Selic em 13,75% ao ano e o tom mais duro do Banco Central sobre o congelamento da taxa em patamar elevado por mais tempo.

Na ponta positiva, empresas ligadas à commodities sobem após a China anunciar novas medidas de arrefecimento da sua política de restrições contra a política zero Covid.

Por volta das 13h, o principal indicador da Bolsa brasileira pedia 1,2%, aos 107.805 pontos, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.

O desempenho do Ibovespa vai na direção oposta de Wall Street, que opera em alta na véspera da divulgação de novos dados da inflação americana que devem trazer mais clarezas sobre a redução da escala dos juros pelo Fed (o banco central americano).

Risco fiscal no radar

Ontem, o Senado aprovou a PEC da Transição com R$ 145 bilhões fora do teto de gastos, a regra que limita as despesas do governo à inflação do ano anterior, em 2023 e 2024. O texto seguiu para a Câmara dos Deputados, onde deve ser votado a partir da próxima semana.

O valor excluído da regra fiscal já era esperado pelo mercado e está abaixo da proposta original do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de aproximadamente R$ 200 bilhões em 2023 e prazo de quatro anos.

Apesar da pouca surpresa com o resultado, Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, afirma que o valor aprovado ainda é negativo e gera estresse no mercado devido ao risco de descontrole da dívida pública a partir do próximo ano.

Além da PEC da Transição, investidores seguem à espera do anúncio dos ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que devem ser revelados a partir da diplomação do novo presidente, na segunda-feira (12).

As principais apostas estão no nome de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, para comandar a equipe econômica. O petista participou de uma série de agendas com o mercado nos últimos dias e se encontrou com o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, nesta manhã, em Brasília.

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Segundo Varejão, com o consenso de que Haddad será o novo ministro da Fazenda, os olhares se voltam para a composição dos seus auxiliares.

“O mercado já estava trabalhando com um nome mais político para a Economia, desde que ele seja apoiado por secretários mais técnicos”, afirma.

O temor de risco voltou a pressionar os juros futuros, que encostam em 13% nesta manhã. Diante deste cenário, empresas mais sensíveis às taxas futuras lideram as perdas do Ibovespa.

O grupo é puxado pela CVC (CVCB3), com tombo de 7,7%, Localiza (RENT3), Alpargatas (ALPA4) e Pão de Açúcar (PCAR3) também figuravam as principais baixas, com 5,9%, 5,8% e 5,7%, respectivamente.

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Copom vem em linha com o esperado

Ainda na pauta doméstica, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve, nesta quarta-feira (7), a Selic em 13,75% ao ano, conforme já era amplamente esperado pelo mercado.

Os investidores prestaram mais atenção no tom que o colegiado deu para os próximos passos, sobretudo sobre a manutenção dos juros pressionados por mais tempo.

No comunicado, o colegiado acrescentou um parágrafo que ressalta que terá “especial atenção” com a política fiscal, destacando que acompanhará os desenvolvimentos dos seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação.

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Para Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, o BC elevou o tom em relação à preocupação com o cenário fiscal, o que também já era esperado pelo mercado.

“O BC apontou que vê elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, em linha com as últimas falas do presidente do BC [Roberto Campos Neto]”, diz Damico.

Com o aumento do risco fiscal, o mercado postergou as apostas para o corte de juros, que antes era esperado para o fim do primeiro trimestre e agora está no início do segundo semestre de 2023.

Há casas, inclusive, prevendo aumento da taxa Selic para 14% no fim de 2023 em função do aumento dos gastos do governo.

Commodities seguram queda

Na ponta positiva, o bom desempenho é garantido pela alta das commodities no mercado global após a China anunciar o afrouxamento da política de restrições contra a Covid-19.

O gigante asiático adotou medidas para tratar pacientes em casa, o que deve tirar um pouco a pressão internacional sobre o endurecimento dos lockdowns no país.

Com isso, o minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian subiu 1,41%, a US$ 113,37 por tonelada. O petróleo também reage positivamente, com o Brent em alta de 1,3% na ICE, a US$ 78,19 o barril.

A alta do Ibovespa é puxada pela Meliuz (CASH3), com alta de 5,3%, em movimento de correção após a queda da véspera.

Na sequência, destaque para Bradespar (BRAP4), com avanço de 1,8%, Vale (VALE3), que sobe 1,7%  e PetroRio (PRIO3), com alta de 1,6%.

Mercado internacional

As principais Bolsas globais operam no campo positivo, com investidores à espera de novas indicações dos rumos da inflação americana com dados do PPI (índice de preços ao produtor) de novembro, que serão divulgados nesta sexta-feira (9).

O humor dos mercados está volátil nos últimos dias após números conflitantes sobre o impacta da alta dos juros na maior economia do mundo e a percepção de desaceleração das taxas a partir deste mês.

Dados divulgados nesta manhã mostraram que o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA subiu para 230 mil, em linha com o esperado pelo mercado. Na semana passada, os números do mercado de trabalho acima das expectativas indicaram que os juros ainda não impactaram em cheio às atividades.

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