Apesar de dados de inflação em linha com o esperado nos Estados Unidos e da alta do petróleo, o Ibovespa não foi capaz de sustentar o sinal positivo que carregou durante boa parte do dia e fechou o pregão desta terça-feira (12) em baixa de 0,69%, aos 116.146 pontos, com volume negociado de R$ 15,79 bilhões, seguindo o movimento de Nova York.
Assim, a desvalorização registrada em abril aumentou para 3,21%, enquanto a performance do acumulado do ano segue de alta de 10,8%.
Em Nova York, o S&P 500 caiu 0,33%, o Nasdaq teve baixa de 0,3% e o Dow Jones recuou 0,26%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve perdas de 0,21%.
Inflação pesa mais uma vez
O grande evento do dia foi a divulgação do CPI (índice de preços ao consumidor) dos EUA, que acelerou para 1,2% em março, acima do aumento de 0,8% em fevereiro. Em 12 meses, o indicador já sobe 8,5%, maior valor desde dezembro de 1981.
O indicador veio em linha com o esperado pelo mercado – analistas apostavam em alta de 1,1% -, o que fez as Bolsas de Nova York, assim como o Ibovespa, subirem durante boa parte do pregão.
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O cenário reforça a chance de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevar o ritmo de alta dos juros no país. Na última reunião, o Fed iniciou o ciclo de aperto monetário ao aumentar a taxa em 0,25 ponto percentual, mas a tendência é que, a partir da próxima reunião, em maio, o aperto passe a ser maior, de 0,50 ponto percentual.
“A leitura preliminar dos dados é muito ruim”, afirmou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. “A perspectiva é que o Fed de fato eleve para 50 pontos-base de alta sua taxa básica na próxima reunião. Hoje a curva de juros precifica que a taxa básica americana chegue entre 2,5% e 2,75% ao final de 2022, mas não nos surpreenderia se o movimento total seja ainda maior este ano, em 3%”.
Com isso, os temores inflacionários voltaram a ganhar força ao longo do dia e as Bolsas passaram para o terreno negativo, especialmente depois de Lael Brainard, diretora do Fed, ter dito que a inflação nos EUA segue muito alta e que a instituição terá de apertar a política monetária por meio de uma série de altas de juros.
O Ibovespa seguiu a virada em Nova York. Quanto maior e mais rápido o aumento de juros promovido pelo Fed, menor a atratividade de ativos de maior risco, que é o caso de países emergentes como o Brasil. Nesse cenário, a tendência é de uma menor entrada de recursos de estrangeiros no país.
A perspectiva de um maior aperto monetário também afetou os juros futuros, que fecharam em baixa, refletindo nas ações de varejistas e empresas de tecnologia que recuaram em bloco.
No pregão, as maiores quedas do Ibovespa foram do Banco Inter (BIDI11), Méliuz (CASH3) e Marfrig (MRFG3), com perdas de 8,54%, 5% e 4,73%, respectivamente.
A queda do Banco Inter seguiu os números operacionais do primeiro trimestre de 2022. O banco registrou avanço de 82% no número de clientes, em comparação com o mesmo período do ano passado, para 18,6 milhões. O ritmo de abertura de contas, porém, foi aproximadamente 5% menor do que o quarto trimestre de 2021.
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Os frigoríficos também caíram em bloco: Minerva (BEEF3) teve baixa de 2,95%; BRF (BRFS3), de 2,22%; e JBS (JBSS3), de 1,94%. “O setor sofre pressão por margem devido ao aumento dos custos dos insumos, principalmente os grãos, com o advento do conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado em fevereiro”, diz Leandro Petrokas, analista e sócio da Quantzed.
Ucrânia e China no foco
Como de costume, a guerra na Ucrânia também segue dominando os noticiários. Nesta terça-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu, em discurso, que a União Europeia imponha sanções ao petróleo e aos bancos russos, e estabeleça um prazo para encerrar as importações de gás do país.
O mais recente aumento de tensão veio depois de acusações, na semana passada, de que as tropas russas teriam assassinado centenas de civis ucranianos desde o início da guerra.
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que as negociações de paz com os ucranianos chegaram a um “beco sem saída” e que continuará atacando o país vizinho, aumentando a perspectiva de continuidade da guerra.
Em reação aos desdobramentos da guerra e as notícias que apontam um cenário de restrição à oferta da commodity, em meio a sinais de aumento de demanda, o petróleo voltou a subir com força nesta terça-feira, com o Brent fechando em alta de 6,25%, a US$ 104,64.
Assim, as petrolíferas do Ibovespa tiveram um dia de alta. A PetroRio (PRIO3) teve avanço de 1,71% e 3R Petroleum (RRRP3) subiu 0,2%. Exceção, foi a Petrobras (PETR4), que deve ter a confirmação do seu novo presidente esta semana, que caiu 0,3%.
As medidas de restrição adotadas pela China para conter a aceleração de novos casos de Covid-19, que estava no radar dos investidores nos últimos dias, devem começar a ser reduzidas, de acordo com a mídia chinesa.
Além do petróleo, o minério também apresentou uma valorização na comparação intradia. Na Bolsa de commodities de Dalian, o minério de ferro teve uma alta de 4,40%, negociado a US$ 145,22. As siderúrgicas da Bolsa subiram, com destaque CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5), com ganhos de 0,86% e 0,62%, respectivamente.
As maiores altas do Ibovespa, porém, foram de ações que apresentaram desvalorização nos últimos dias. A Cogna (COGN3) liderou os ganhos, com avanço de 4,49%, seguida de Cielo (CIEL3), que subiu 4,04%, e Ultrapar (UGPA3), que teve alta de 3,21%.