Queda do juro real deve favorecer alta da Bolsa em 2023, aponta estudo do BNP

Levantamento do BNP Paribas mostra que cada 1% de queda do juro real de longo prazo poderia se refletir em alta de 15% do Ibovespa

Foto: Shutterstock/rafastockbr

A expectativa de corte da Selic a partir do segundo semestre de 2023 deve contribuir para a queda da taxa de juros real (quando é descontada a inflação) no Brasil, o que pode ajudar a impulsionar a alta da Bolsa em 2023.

Levantamento do BNP Paribas mostra que há uma correlação entre a taxa prefixada da NTN-B (juro real), título do Tesouro Nacional com retorno atrelado ao IPCA, de longo prazo (dez anos) e a variação do Ibovespa. Assim, cada 1% de queda do juro real de longo prazo poderia se refletir em alta de 15% do principal índice da Bolsa brasileira.

Isso porque o preço de uma empresa na Bolsa é calculado com base nos fluxos de caixa esperados para a companhia ao longo do tempo, trazidos a valor presente por uma taxa de desconto.

Essa taxa de desconto oscila de forma muito similar à taxa de juros real da NTN-B, afirma Marcos Kawakami, gestor de renda variável da BNP Paribas Asset Management.

Assim, quando a taxa de juros real sobe, essa taxa de desconto também aumenta, reduzindo o valor esperado para a companhia. Isso porque o custo de capital para as empresas sobe, o que torna mais caro, por exemplo, fazer investimentos e refinanciar a dívida.

Já quando a taxa de juros real cai, essa taxa de desconto usada para calcular o valor das empresas na Bolsa também recua, aumentando o valor esperado para a companhia.

Para qual patamar a taxa Selic deve cair em 2023?

O BNP Paribas espera que a taxa básica de juros, hoje em 13,75%, caia para 9,25% no fim de 2023, o que deve beneficiar a Bolsa brasileira.

Depois de atingir o pico de 6,27% em 26 de julho, a taxa real do título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035 recuou para 5,99% no dia 27 de outubro, um dia após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

No comunicado da decisão que manteve a Selic inalterada, o Banco Central destacou que continuará “vigilante” e que poderá voltar a subir os juros se necessário para garantir a convergência da inflação para a meta.

O BC ainda alertou sobre possíveis impactos de um descontrole das contas públicas em um próximo governo.

Segundo Kawakami, a taxa de juros real é afetada por outros fatores que não só a política monetária, como a questão fiscal.

“Se não tivermos uma explosão fiscal ano que vem, deveremos ver uma queda da taxa de juros real de longo prazo no Brasil”, diz.

O candidato do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou ontem uma carta reforçando o compromisso com a responsabilidade fiscal. Os mercados chegaram a reagir positivamente no momento da divulgação, mas logo reduziram o ritmo dos ganhos.

“À medida que o mercado foi digerindo e entendendo o conteúdo da carta, e como não veio uma confirmação de Henrique Meirelles como ministro da Fazenda e nem detalhes do que será a nova âncora fiscal, os ativos devolveram a boa performance”, afirmou Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital.

Queda de juros deve impulsionar fluxo na Bolsa

Estudo recente do JP Morgan aponta que o potencial de fluxo positivo de investimentos estrangeiros para a B3 em 2023 é de até R$ 48 bilhões, com a provável queda da taxa Selic no ano que vem.

Com a alta dos juros para dois dígitos, muito investidores migraram as alocações em Bolsa e fundos de ações para renda fixa. Os fundos de ações registraram neste ano, até setembro, resgate líquido de R$ 57,9 bilhões.

Embora a saída de recursos tenha estabilizado recentemente, segundo Kawakami, o movimento maior de volta da alocação das pessoas físicas para Bolsa deve se intensificar quando de fato a taxa Selic voltar a cair.

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