Após quase um mês de fortes altos e baixos, a temporada de balanços corporativos do terceiro trimestre de 2021 acabou. Trimestralmente, o mercado é agitado pelo desempenho das empresas que a integram, e cabe ao investidor ficar antenado ao que está acontecendo. Isso passa por entender os indicadores da Bolsa de Valores.
Entre julho e setembro, a maior parte das empresas da Bolsa de Valores mostrou um forte avanço operacional ante o mesmo período do ano passado, ainda sob o impacto da pandemia. Por isso, não foi incomum terem sido publicadas frases como: “Ebitda dispara 100%”; “receita líquida sobe 150%”; e por aí vai.
Segundo a XP, 64% dos resultados ficaram acima das expectativas do mercado em termos de lucro operacional — outro termo importante.
Mas, afinal, o que o investidor deve conhecer? Quais são os principais indicadores, métricas, múltiplos e demais peculiaridades do mercado financeiro essenciais de se acompanhar, principalmente na temporada de resultados?
Muitas vezes, o “economês” afasta potenciais investidores da prática do acúmulo de patrimônio — sendo uma das razões para apenas 1,6% da população brasileira investir em ações.
A Agência TradeMap separou alguns dos principais indicadores e demais tópicos importantes, explicando-os com exemplos e atribuindo sua importância para determinados setores. Caso você tenha deixado algum balanço para trás, fica a dica.
Lucro bruto
O lucro bruto é resultado da subtração dos custos da receita líquida. Esses custos são os relacionados apenas à produção da empresa.
Dessa forma, o número é variável, uma vez que o montante de custos dependerá do volume produtivo da empresa em determinado período.
Exemplo: uma fábrica de canetas vendeu 10 mil unidades por R$ 5 cada. Com isso, foi obtida a receita de R$ 50 mil (10.000 x 5). Os custos de produção foram de R$ 1,50 por unidade, totalizando R$ 15 mil (10.000 x 1,5). O lucro bruto, portanto, foi de R$ 35 mil.
Alguns dos custos variáveis:
- Embalagens;
- Combustível;
- Mão de obra temporária;
- Equipamentos para produção;
- Comissão de vendas.
E atenção! Margem bruta é o resultado da divisão entre o lucro bruto e a receita líquida e mede parte do desempenho operacional das vertentes de negócio da empresa.
Lucro líquido
O lucro líquido é, talvez, a linha mais importante da DRE e constantemente citado pelas empresas em Bolsa. Em suma, o indicador mostra quanto sobrou para a empresa depois de todos os desembolsos obrigatórios, seja com custos ou despesas.
Além das despesas variáveis, mencionadas anteriormente, as despesas fixas podem ser referentes a:
- Salários de colaboradores;
- Contas como água, luz e aluguéis;
- Seguros para a operação.
Na prática, o indicador mostra o valor limpo (ou líquido) que é devido à empresa em determinado período. A fórmula é: lucro líquido = receita total – despesas fixas – despesas variáveis.
> Importante
Existem alguns tipos diferentes de lucro líquido. O lucro líquido ajustado refere-se ao lucro líquido do período, subtraídos os valores destinados às reservas legais e demais itens contábeis e não-contábeis, a depender da operação no período.
No caso abaixo, da Espaçolaser (ESPA3), por exemplo, o lucro líquido ajustado leva em consideração a postergação contábil da receita, eliminação de despesas não recorrentes e eliminação do impacto contábil da marcação a mercado das opções sobre ações da companhia.

O lucro atribuído aos acionistas da controladora é o que serve como base para o pagamento de dividendos. Já o lucro líquido consolidado inclui o resultado que pertence aos investidores minoritários de controladas.
No caso abaixo, o resultado da Méliuz (CASH3) é apresentado nas bases da controladora e o consolidado, conforme mencionado.

O lucro normalmente observado pelos investidores é o consolidado, pois engloba as operações de todas as empresas sob o guarda-chuva da companhia. Na situação da Méliuz, por exemplo, considera os números de suas quatro aquisições realizadas desde o IPO.
Atenção! Margem líquida é o percentual líquido que sobrou para a empresa em relação a sua receita líquida. O resultado vem da divisão entre o lucro líquido e a receita líquida. É importante para mostrar de forma direta o nível de rentabilidade de uma empresa.
Entenda a receita bruta
A receita bruta nada mais é que a receita total da empresa, ou seja, o indicador de vendas de uma companhia.
O montante agrega todas as entradas de capital em determinado período, sendo normalmente o primeiro item da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), divulgado trimestralmente.
Por exemplo: uma empresa que vende mil pares de sapato em um trimestre, ao preço de R$ 50 cada, terá uma receita bruta de R$ 50 mil.
Trata-se de um importante indicador de crescimento, desaceleração ou baixa da operação de uma empresa.
Receita líquida
A receita líquida, por sua vez, equivale ao faturamento bruto após as devoluções e descontos concedidos.
Ela pode ser dividida entre receita operacional, sendo resultado dos negócios de fato da companhia, e não recorrente, que é proveniente de um evento que não se repete — como a venda de um dos ativos de tal empresa.
No segundo trimestre deste ano, por exemplo, a RD (RADL3), controladora das drogarias Raia e Drogasil, teve um ganho não recorrente de R$ 58 milhões, ligado a um processo por créditos de PIS/Cofins. Confira a seguir o histórico da receita líquida da empresa.
Histórico de crescimento da receita líquida da RD (RADL3)

Trata-se de um número mais real em relação ao faturamento da companhia, e é importante para mensurar como andam as vendas a crédito.
Ebitda
A sigla em inglês Ebitda, ou Lajida (em português), mostra o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização operacional.
O indicador é importante para mensurar o desempenho operacional de uma companhia, pois desconsidera itens que não têm relação com os negócios do dia a dia.
O Ebitda também deve ser observado sob o ponto de vista de geração de valor, pois é o que mais se aproxima da geração de caixa de uma empresa, que é de onde sai o dinheiro para pagamento de dividendos, investimentos e sustentação do negócio.
Histórico do Ebitda da Petrobras (PETR4) acumulado de 12 meses

Outro indicador similar nesse sentido é o Ebit, que é o lucro antes apenas de juros e impostos, também conhecido como lucro operacional. A diferença dele para o Ebitda é que o último soma ao resultado líquido as despesas com depreciação e amortização.
Não é possível dizer qual dos dois é mais importante, pois depende da situação. Utilizar o Ebitda em empresas com a característica de serem intensivas em capital (maquinário, imóveis etc.) pode levar o investidor ao erro, pois a depreciação e amortização fazem parte da análise.
> Importante
Resultados de bancos não têm Ebitda. Esse indicador desconsidera o item “juros”, que faz parte do desempenho operacional das instituições financeiras, não sendo possível desvinculá-lo.
E atenção! Margem Ebitda mostra a eficiência operacional da companhia, pois apresenta a margem de lucro sem considerar os custos com juros, impostos, depreciação e amortização. A fórmula é o Ebitda dividido pela receita, com o resultado em porcentagem, sendo um dos principais indicadores da Bolsa de Valores.